Covid-19: vacina da Moderna é 94,5% eficaz, diz empresa; diretor da OMS mostra otimismo com ‘boas candidatas’
NOVA YORK – A farmacêutica americana Moderna anunciou nesta segunda-feira que sua vacina contra o coronavírus é 94,5% eficaz. A informação, mais uma notícia positiva na corrida pelo imunizante contra a Covid-19, foi dada após uma análise inicial dos resultados do estudo, que segue na Fase 3, a final.
Os pesquisadores informaram ainda que os resultados foram melhores do que eles ‘ousavam imaginar’, mas que a vacina provavelmente não estará disponível em larga escala antes de março.
A Moderna é a segunda empresa ocidental a relatar dados preliminares sobre uma vacina aparentemente bem-sucedida, oferecendo esperança em uma pandemia que infectou mais de 53 milhões de pessoas em todo o mundo e matou mais de 1,2 milhão. A Pfizer, em colaboração com a BioNTech, foi a primeira, relatando na semana passada que sua vacina era mais de 90% eficaz.
Oksana Drapkina, diretora de um dos institutos de pesquisa do Ministério da Saúde russo, afirmou, em um comunicado que a vacina produzida pelo país, a Sputnik V, também é mais de 90% eficaz.
Os resultados foram analisados por um conselho independente de monitoramento de segurança de dados, nomeado pelos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA.
A Moderna, com sede no estado americano de Massachusetts, desenvolveu sua vacina em colaboração com pesquisadores do Centro de Pesquisa de Vacinas, que faz parte do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas.
‘Muito imperssionante’, diz Fauci
Anthony S. Fauci, diretor do instituto e principal autoridade epidemiológica do país, afirmou que já ficaria satisfeito com uma vacina 75% eficaz.
— De forma aspiracional, gostaríamos de ver 90%, 95%, mas não esperava por isso. Achei que seria (um número) bom, mas 94,5% é de fato muito impressionante.
No estudo da Moderna, 30 mil pessoas saudáveis, com mais de 18 anos, nos Estados Unidos participam do estudo. Parte delas recebeu a dose da vacina experimental, e a outra parte tomou placebo.
Dessas 30 mil, 95 contraíram o coronavírus: cinco que foram vacinadas e 90 que receberam injeções de placebo de água salgada. Estatisticamente, a diferença entre os dois grupos foi altamente significativa. Dos 95 casos, 11 foram graves — todos no grupo do placebo.
No Brasil, não há no momento nenhum acordo com a farmacêutica Moderna para compra e distribuição do imunizante.
Stéphane Bancel, presidente-executivo da Moderna, disse em um comunicado que os resultados forneceram “a primeira validação clínica de que nossa vacina pode prevenir a doença de Covid-19, incluindo doenças graves”.
A Pfizer e a Moderna anunciaram as descobertas em comunicados à imprensa, não em revistas científicas revisadas por pares, e as empresas ainda não divulgaram os dados detalhados que permitiriam que especialistas externos avaliassem suas afirmações. Portanto, os resultados ainda não podem ser considerados conclusivos. Os estudos continuam e os números sobre a eficácia podem mudar.
Novo conceito de vacinas aumenta esperança
Os imunizantes das empresas abrem a porta para uma forma inteiramente nova de se bolar vacinas – e rapidamente. As duas usam uma versão sintética do material genético do coronavírus, chamada RNA mensageiro ou mRNA, para programar as células de uma pessoa para produzir muitas cópias de um fragmento do vírus. Esse fragmento dispara alarmes no sistema imunológico e o estimula a atacar, caso o vírus real tente invadir. Embora uma série de vacinas usando essa tecnologia esteja em desenvolvimento para outras infecções e cânceres, nenhuma foi ainda aprovada ou comercializada.
— O fato de duas vacinas diferentes feitas por duas empresas diferentes com dois tipos de estruturas diferentes, em um novo conceito de RNA mensageiro, funcionarem de forma tão eficaz, confirma o conceito de uma vez por todas de que esta é uma estratégia viável não apenas para a Covid-19, mas para futuras ameaças de doenças infecciosas — disse Barry R. Bloom, professor de saúde pública em Harvard.
Otimismo da OMS
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, afirmou nesta segunda-feira que a candidata à vacina da Pfizer e BioNTech parece “promissora” e provavelmente haverá mais “boas candidatas” até o final deste ano e no início de 2021.
Segundo ele, novos relatórios de vacinas Covid-19 estão no horizonte, com fabricantes de medicamentos que devem obter mais dados de testes ainda esta semana. As atualizações são aguardadas com ansiedade enquanto a pandemia se acelera, com os EUA ultrapassando 11 milhões de casos e crescimento de casos no Brasil, além de diversos países na Europa e Ásia.
No entanto, ainda falta descobrir se o imunizante da Pfizer e da Moderna funcionam igualmente bem em pessoas mais velhas e mais jovens. Ainda não se sabe também quanto tempo vai durar a imunidade fornecida pelas vacinas.
Maior facilidade de transporte
Uma preocupação adicional é que ambas as vacinas devem ser armazenadas e transportadas em baixas temperaturas, o que poderia complicar sua distribuição, especialmente em áreas de baixa renda em climas quentes.
A da Moderna, no entanto, é um pouco mais fácil. Ela pode ficar por até seis meses em um ambiente a -20°C para ser transportada e armazenada. Após ser descongelada, sua validade é de 30 dias e tem que estar refrigerada entre 2ºC e 8ºC.
Em contraste, a Pfizer informa, segundo o Financial Time, que seu imunizante deve ser transportada a menos 70ºC e pode sobreviver em uma geladeira normal por apenas cinco dias, tornando a distribuição potencialmente mais complicada.
A Moderna informou ainda que os pesquisadores descobriram que sua vacina tem vida útil mais longa na geladeira do que se pensava anteriormente: 30 dias, não sete. E vai durar 12 horas em temperatura ambiente, disse a empresa.
Ambas as empresas informaram que esperam pedir uma autorização de emergência à agência regulatória americana, a Food and Drug Administration (FDA), dentro de semanas para começar a vacinar o público. Além das evidências de eficácia, elas também devem apresentar dois meses de dados de segurança de pelo menos metade dos participantes.
J&J inicia teste de duas doses
Já Johnson & Johnson lançou nesta segundaa-feira um novo ensaio de estágio final em grande escala para testar um regime de duas doses de sua vacina experimental. O objetivo é avaliar se uma segunda dose faz com que a proteção dure por mais tempo.
A farmacêutica dos EUA planeja inscrever até 30 mil participantes no estudo e executá-lo em paralelo com um ensaio de uma dose, que tem 60 mil voluntários e começou em setembro. Ele será feito no Reino Unido, Estados Unidos, Bélgica, Colômbia, França, Alemanha, Filipinas, África do Sul e Espanha.
Os voluntários receberão uma primeira dose de um placebo ou da injeção experimental, atualmente chamada de Ad26COV2, seguida por uma segunda dose ou placebo 57 dias depois, disse Saul Faust, professor de imunologia pediátrica e doenças infecciosas que co-lidera o estudo no University Hospital Southampton.