Conheça o segredo das cidades de MS que não têm crimes violentos há três anos
De 1º de janeiro de 2020 até o dia 9 de fevereiro de 2023, Mato Grosso do Sul contabilizou 1.359 homicídios dolosos, 115 feminicídios, 23 lesões corporais seguidas de morte e 40 latrocínios. Porém, nenhum desses crimes violentos foi registrado em Caracol, Jateí ou Vicentina.
Conforme os dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), essas foram as cidades que não tiveram nenhum registro desses crimes nos últimos três anos. Os municípios não ultrapassam os 7 mil habitantes, sento Jateí a cidade menos populosa.
“O povo é muito solidário, não temos esse tipo de problema”, cita o prefeito de Caracol, Carlos Humberto. Ele lembra que a cidade agora está passando por um ritmo maior, por causa da Rota Bioceânica e também pela chegada de um frigorífico.
“Mas mesmo assim não tem dado alteração”, afirma. Ainda conforme o prefeito, a cidade é muito tranquila e a população vive ‘relaxada’. “Não precisa passar chave na casa, nem no carro. Isso também é pela boa índole da população, pela educação”.
Para a Polícia Militar, vários fatores resultam na tranquilidade e baixo índice de crimes violentos em Caracol. Entre eles, está a proximidade entre a polícia e a população da cidade, conforme apontado pelo tenente-coronel Adilson Paiva Valente.
Isso se dá, entre outros motivos, pelo fato de que metade do efetivo policial militar vive em Caracol, interagindo a todo momento com a população. Além disso, o atendimento via 190 tem um sistema que capta a ligação, caindo diretamente na viatura por meio de celular que fica com a equipe.
Assim o atendimento é agilizado. Ainda para a PM é necessário destacar o serviço da Polícia Civil, que agrega no combate aos possíveis crimes mais graves. “Caracol é ainda daquelas cidades onde se pode dormir de janela aberta, onde se vai ao mercado e se deixa a chave no contato do veículo”, pontua o tenente-coronel.
Tal característica também se dá pela população ser em grande parte formada por pessoas das famílias tradicionais. “Aliado a esses fatores, temos na gestão pública, investimento em infraestrutura de causar inveja em cidades muito maiores que nos circundam: A cidade está praticamente toda asfaltada, as ruas possuem boa iluminação pública, a cidade possui espaços de lazer importantes para o público jovem”.
A cidade é como um condomínio fechado
Já para o prefeito Edgar Leite, de Jateí, o sistema de segurança da cidade é muito bom. Ainda por cima, há dois anos a cidade conta com sistema de monitoramento em todo município e também no distrito, a 10 quilômetros.
Além disso, a iluminação pública não favorece a criminalidade. “O último crime foi passional, em 1996”, relembrou ainda o prefeito, que enalteceu o trabalho tanto da PM quanto da Polícia Civil.
“É um condomínio fechado”, brincou. Responsável pelo comando de Jateí e também de Vicentina, a tenente-coronel Sandra relembrou que o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) dos municípios é considerado alto.
Jateí tem IDH 0,708 e Vicentina 0,711. Assim, reforça que isso demonstra uma boa qualidade de vida da população dessas cidades, pelos fatores de grau de escolaridade, renda e nível de saúde.
Sendo assim, a população tem as necessidades básicas atendidas, potencializando o grau de satisfação individual. “Ou seja, mais renda, mais educação, mais emprego e mais saúde significam menos violência”, pontua a comandante.
“O 14º BPM adotou a filosofia de Polícia Comunitária, mantendo o contato direto entre a Polícia Militar e os cidadãos”, afirmou a tenente-coronel. Assim, os moradores conseguem avisar diretamente sobre pessoas estranhas na cidade por meio de um número de celular.
“Por serem cidades pequenas, com poucos habitantes, permite que os policiais, os quais são moradores da própria comunidade, conheçam grande parte da população, facilitando à elucidação de pequenos delitos”, conclui ainda.
A tenente-coronel cita ainda os serviços de Patrulha Rural, de policiamento na zona rural da cidade, e o Programa Mulher Segura – Promuse. Este assiste mulheres vítimas de violência doméstica.
“Desde a implantação do Promuse até a data atual não houve nenhum feminicídio na cidade”, contou a comandante. Segundo ela, há um canal de comunicação direta entre as vítimas mulheres e a polícia.
Sobre o videomonitoramento em Jateí, a tenente-coronel Sandra afirma ainda que as imagens possibilitam ao coordenador do policiamento da PM direcionar as viaturas policiais para os locais com maior necessidade. Assim, previne delitos e auxilia na identificação dos autores.
“A combinação de IDH e Segurança Pública, por meio das modalidades de policiamento utilizadas, seja rural, urbana ou por videomonitoramento, possibilitou que as cidades de Jateí e Vicentina não tivessem nenhum caso de homicídio ou latrocínio por dois anos seguidos (2021 e 2022)”, finalizou.