Quem pode tomar a vacina da dengue na rede privada e quanto custa a dose
A nova vacina da dengue Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, chegou ao Brasil na rede privada em julho do ano passado, quando se tornou o primeiro imunizante destinado para a prevenção de todos de 4 a 60 anos, tanto aqueles que nunca tiveram a doença, como os que já foram infectados.
Sete meses depois, segundo levantamento do GLOBO, as doses podem ser encontradas por valores entre R$ 350 e R$ 490. Como o esquema envolve duas aplicações, com um intervalo de três meses entre elas, o preço final fica de R$ 700 a R$ 980.
Abaixo, confira as indicações dos especialistas, os valores da vacina e as contraindicações.
Quem pode tomar a vacina da dengue?
A vacina, chamada Qdenga, foi aprovada pela Anvisa em março do ano passado para pessoas entre 4 e 60 anos. Nos estudos clínicos, as duas doses demonstraram uma eficácia geral de 80,2% para evitar contaminações, e de 90,4% para prevenir casos graves.
A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) indica a proteção para todos que fazem parte do grupo etário elegível, tanto os que nunca tiveram a doença, como aqueles que já foram infectados antes. Todos podem buscar a proteção na rede privada.
Rosana Richtmann, diretora do Comitê de Imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que, na Europa, a vacina foi aprovada a partir de 4 anos sem idade máxima, e que por isso muitos médicos têm recomendado de forma off-label (finalidade diferente da bula) para idosos.
Porém, no seu caso, diz que prefere seguir as delimitações da Anvisa. Ela conta ainda que, além de avaliar o critério etário, costuma reforçar a importância com base no local em que a pessoa vive e se ela já teve dengue antes.
— No Brasil, praticamente todas as regiões têm casos, mas há algumas com mais. Em termos de incidência, ano passado a região Centro-Oeste teve um aumento importante de número de casos. A região Sul também, que é a que mais nos chamou atenção. Antes não tínhamos dengue lá, eles estão começando a viver a epidemia de uma doença que eles não tinham o manejo para lidar com o vírus — afirma.
Quem já teve dengue pode tomar a vacina?
Em relação a já ter sido infectado com dengue, ela lembra que são casos em que a vacina é ainda mais benéfica já que uma segunda contaminação – possível pelo fato de o vírus ter quatro sorotipos – ser geralmente mais grave.
Quanto custa a vacina da dengue?
Segundo levantamento do GLOBO, os valores da dose da vacina da dengue variam hoje de R$ 350 e R$ 490 pelo país, ou seja, o esquema completo fica de R$ 700 a R$ 980.
No geral, a Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED), órgão responsável pela regulação do mercado de medicamentos no Brasil, estipula que o Preço Máximo ao Consumidor (PMC) da dose da Qdenga pode variar de R$ 346,66 a R$ 390,90, a depender da alíquota do ICMS em cada estado.
A Associação Brasileira de Clínicas de Vacinas (ABCVAC), porém, explica que a precificação final é maior porque inclui valores referentes ao “atendimento, à triagem, à análise da caderneta de vacinação, às orientações pré e pós-vacina, além de todo o suporte que os pacientes necessitam para se informar corretamente sobre a questão da vacinação”.
Onde a vacina da dengue está disponível?
A Qdenga pode ser encontrada em laboratórios, clínicas de vacinação e farmácias. Em redes de drogarias como Droga Raia e Drogasil, Pacheco e São Paulo, a dose custa R$ 349,90.
Nas unidades do grupo Fleury, que engloba marcas como Labs a+, Clínica Felippe Mattoso e LAFE em 12 estados e no Distrito Federal, o preço de cada dose vai de R$ 400 e R$ 490 a depender da região.
No Richet Medicina, marca da Rede D’Or no Rio de Janeiro, a dose está disponível nas unidades Ipanema, Tijuca, Barra e Península, além de atendimento domiciliar, por R$ 450 cada. Nas clínicas do Labi, presentes em cidades dos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo, pode ser encontrada por R$ 390.
Quem também oferece a vacina é a rede de saúde integrada Dasa, que engloba 30 marcas como Sérgio Franco, Bronstein, Alta, Delboni, Exame e Atalaia em 12 estados e no Distrito Federal. Os valores, no entanto, não foram informados pela rede.
Precisa de prescrição médica para a vacina da dengue?
Segundo a bula, a vacina deve ser vendida apenas mediante prescrição médica. Isso era importante especialmente devido à resolução da Anvisa 197/2017, que obriga a cobrança de receita em estabelecimentos privados para doses que não estão contempladas pelo Calendário Nacional de Vacinação do SUS.
No entanto, como o imunizante foi aprovado recentemente para entrar no calendário do SUS, a sua indicação pela Anvisa é ampla e muitos locais de vacinação contam com médicos que fazem a triagem, é comum que clínicas dispensem a necessidade prévia da prescrição.
Quem não pode tomar a vacina contra a dengue?
Não são todos que podem receber a nova vacina da dengue, segundo a bula. Além do critério etário, a dose é contraindicada nos cenários abaixo:
- Alergia aos princípios ativos ou a qualquer um dos outros componentes da vacina, listados abaixo;
- Sistema imunológico (defesas naturais do corpo) comprometido, como devido a um defeito genético ou infecção por HIV;
- Uso de medicamento que afeta o sistema imunológico (tais como corticosteroides em doses altas ou quimioterapia). Seu médico não indicará QDENGA antes de 4 semanas de você parar o tratamento com esse medicamento;
- Mulheres grávidas;
- Mulheres durante a amamentação;
- Reação alérgica após receber a primeira dose. Os sinais de uma reação alérgica podem incluir erupção na pele com coceira, falta de ar e inchaço na face e na língua;
A lista com as substâncias que aqueles com hipersensibilidade devem evitar envolve:
- α,α-Trealose di-hidratada
- Poloxamero 407
- Albumina sérica humana
- Di-hidrogenofosfato de potássio
- Hidrogenofosfato dissódico
- Cloreto de potássio
- Cloreto de sódio
Muitas das contraindicações, como a para mulheres gestantes, são comuns às vacinas atenuadas, ou seja, as que são feitas com vírus enfraquecidos, capazes de induzir uma resposta imunológica, mas não de provocar uma infecção.
Quem pode se vacinar no SUS?
O Ministério da Saúde anunciou recentemente que 521 cidades receberão unidades da vacina contra a dengue Qdenga, da farmacêutica japonesa Takeda, para a campanha de 2024 na rede pública, primeira do mundo com o imunizante.
Devido ao quantitativo limitado de doses que o laboratório consegue produzir, nesse primeiro momento foram priorizados jovens de 10 a 14 anos residentes de municípios com mais de 100 mil habitantes e alta transmissão de dengue. A previsão é que a campanha comece oficialmente neste mês.
De acordo com o Ministério, o grupo etário é o que mais sofre com internações pela doença depois dos idosos, por isso foi o escolhido – além de seguir recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e dos especialistas independentes que orientam a pasta.
Como a vacina não foi aprovada para aqueles acima de 60 anos, já que não há estudos na faixa etária confirmando a segurança e eficácia, o Ministério não pode incluí-los na campanha.
Por enquanto, a vacinação será feita apenas com a Qdenga. Mas, em breve, espera-se que a dose em testes do Instituto Butantan também seja incorporada. Recentemente, o instituto publicou dados da última etapa dos estudos, aplicado em dose única e que poderá ser produzido no Brasil.
A eficácia foi de 79,6% para proteger contra a infecção ao longo de um período de dois anos, semelhante à da Qdenga. A expectativa do Butantan é submeter o pedido de aprovação para uso à Anvisa neste ano para, se receber o sinal verde, a dose ser disponibilizada a partir de 2025.
Alta da dengue
Segundo o último informe da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, o Brasil registrou 243.720 casos de dengue nas quatro primeiras semanas epidemiológicas de 2024, o que revela uma alta de 273%.
O crescimento chama atenção especialmente pelos aumentos já alarmantes nos últimos dois anos. Em 2023, o país bateu o recorde de mais mortes causadas pela doença. Foram 1.094 óbitos confirmados, o que superou o ano anterior, 2022, quando contabilizou 1.053 vidas perdidas.
Em relação aos casos, os dados do Ministério da Saúde mostram que foram 1.658.816 diagnósticos prováveis da infecção pelo vírus em 2023, 52.871 com evolução para hospitalização. O número é mais baixo apenas que 2015, quando o Brasil atingiu o recorde de 1.688.688 casos de dengue.