Senador Marcos do Val detalha suposta reunião com Bolsonaro e Daniel Silveira e plano para gravar Moraes
O senador Marcos do Val (Podemos-ES) detalhou, na manhã desta quinta-feira (2/2), o suposto plano para gravar clandestinamente o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), em uma tentativa de reverter a derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nas últimas eleições. O parlamentar se contradisse em relação às afirmações que havia feito na madrugada e buscou responsabilizar o ex-deputado federal Daniel Silveira, que foi preso nesta quinta por descumprir ordens do Supremo, pelo plano golpista.
Na madrugada desta quinta (2/2), do Val havia dito, nas redes sociais, que houve uma “tentativa de Bolsonaro de me coagir para que eu pudesse dar um golpe de Estado junto a ele”. Nesta manhã, o senador mudou a versão e disse que o ex-presidente teria ficado calado durante toda a reunião. Nesta versão, o parlamentar responsabilizou Silveira pelo plano, e ainda garantiu que denunciou tudo ao ministro Alexandre de Moraes.
Em entrevista coletiva em seu gabinete no Senado, do Val relatou que, “em 7 de dezembro [de 2022], estava no plenário e apareceu o Daniel Silveira”. “[Ele] pediu para que pudesse ir lá fora, porque ele não estava com os trajes [ternos e gravata para permanecer no plenário]. Saí e ele disse que o presidente [Bolsonaro] queria conversar comigo.”
Do Val disse ter achado “estranho” ter sido procurado por Silveira, mas afirmou não ter rechaçado inicialmente o contato.
“No dia seguinte, não era possível [atender ao pedido de reunião], e perguntei se poderia ser na sexta. Mas eu já estava pensando que precisava reportar ao ministro Alexandre de Moraes. Encontrei com ele no Salão Branco [do STF] e disse que tinha sido abordado pelo Daniel Silveira e perguntei ao ministro o que ele achava, se eu deveria ir ou não. Ele disse ‘vai, porque, quanto mais informação, melhor’. Marquei no dia seguinte”, seguiu Marcos do Val.
Em seguida, o senador narrou o que aconteceu na reunião com Bolsonaro e Silveira, que, ainda segundo ele, aconteceu na Granja do Torto, uma das residências oficiais da Presidência da República:
“Ele [Silveira] tinha dito que iam me pegar em outro veículo. Meu motorista parou em um estacionamento, ele parou um carro atrás, o Daniel já estava lá dentro. Pedi para o meu motorista aguardar, saí do carro, fui para o carro deles. Passei sem ser identificado [na cancela da Granja do Torto] e, para mim, era alguma coisa voltada para a área de inteligência e na questão dos acampamentos nos quartéis. Iniciamos o assunto só eu, Daniel e o ex-presidente [Bolsonaro]. Afirmei que era melhor avisar logo à sociedade que não ia ter nenhuma intervenção militar, e tirasse aqueles brasileiros dali”, seguiu o parlamentar.
“Daniel Silveira começou a fazer a explicação do porquê de eu ter sido chamado”, continuou do Val, que, em seguida narrou o plano, segundo ele formulado por Silveira, de marcar uma reunião com Moraes e ir com um equipamento de gravação e tentar instar o ministro do Supremo a admitir algum tipo de intervenção ilegal no processo eleitoral com o objetivo de beneficiar o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
“Eu disse que iria pensar, e durante todo o processo o presidente estava em silêncio, quem falava era o Daniel”, disse Marcos do Val, na manhã desta quinta. “Peguei o voo, fui pra Vitória, mandei uma mensagem pro ministro [Moraes] dando mais ou menos o que seria a conversa. Voltei a Brasília, nos encontramos no STF. Relatei pra ele. O ministro ficou surpreso, ele é muito introspectivo. Olhou para cima, balançou a cabeça. Falei: ‘ministro, tô liberado?’ Ele disse que sim.”
Do Val disse, em seguida, que mandou mensagem dizendo a Silveira que não iria participar e que a revista Veja teve acesso a essa mensagem – o que seria a razão para ele trazer toda a história à tona agora.
“O presidente não falou nada, mas não impediu o Daniel de falar sobre a ideia”, disse ainda Marcos do Val. “Quando eu disse que não ia cumprir a missão, que não ia compactuar com isso, ele [Silveira] ficava insistindo. Ligava várias vezes, eu não atendia o telefone”, completou ele.
Fonte: Metrópoles