Covid-19 deixa grande rastro de sequelas em pessoas já curadas da doença
Apesar do registro de mais de 28 mil pessoas recuperadas de Covid-19 em Mato Grosso do Sul, a doença tem deixado um rastro de sequelas em seus pacientes. São pessoas que venceram o novo coronavírus em um hospital, mas que continuam lutando em casa contra os seus reflexos.
Isso porque o tratamento não se finda nos leitos clínicos ou de Unidade de Terapia Intensiva (UTI), exigindo continuidade de atendimentos ambulatoriais.
A pandemia surgiu há mais de sete meses no Brasil e o boletim epidemiológico de Mato Grosso do Sul nesta sexta-feira contabilizava 35.434 casos confirmados de Covid-19, com 28.597 recuperados e 5.702 em isolamento para tratamento domiciliar. Ainda há 544 internados, além de 591 óbitos.
Em meio a este cenário, pesquisadores, médicos e outros profissionais buscam uma vacina contra o vírus. Mas de outro lado ainda se tenta entender quais as consequências de médio e longo prazo para aqueles que contraíram a doença. A observação clínica dos profissionais que estão na linha de frente indica as possíveis sequelas que a doença pode deixar nas pessoas que entraram em contato com o vírus e até mesmo qual a sua duração – se de curto ou longo prazo.
Sabe-se, por exemplo, que alguns sintomas podem persistir não apenas entre aqueles que tiveram casos mais graves da doença e que, além de danos nos pulmões, podem afetar o coração, os rins, o intestino, o sistema vascular e até o cérebro.
RECUPERAÇÃO
Fora do hospital desde 28 de abril, o cinegrafista Edgar das Neves Pereira, 51, é um exemplo do cenário pós-Covid-19. Depois de 36 dias de internação, com 21 dias em coma, seis dias em observação no Centro de Terapia Intensiva do Hospital Regional de Mato Grosso do Sul e mais oito dias na enfermaria, ele dá continuidade ao enfrentamento da doença, agora contra as suas sequelas.
Segundo ele, depois da alta precisou de acompanhamento durante um mês com fonoaudióloga, duas vezes por semana, para reaprender a se alimentar, pois foram 35 dias de alimentação por sonda. “Fiquei três meses tendo atendimento com fisioterapeuta três vezes por semana para reaprender a andar e voltar a fazer movimentos simples e corriqueiros, pois perdi todos os movimentos das pernas [não andava] e quase todos os dos braços”.
Conforme relata, “fui entubado por 21 dias, sinto alguma coisa estranha na minha garganta, parece que ficou mais fechada, tenho que comer com cuidado e devagar”. O cinegrafista revela ainda que saiu do hospital com uma escara [ferida] profunda na região do cóccix.
“Até hoje faço curativo duas vezes por dia e tenho que ir ao Hospital Regional uma vez por semana para curativo e avaliação da ferida. A escara fez o osso do cóccix ficar exposto e foi preciso tomar antibióticos por 15 dias, depois de exames apresentarem a presença de bactérias e um perigo de gangrena.
Indagado sobre sua condição atual, Edgar das Neves afirma: “Meu estado geral hoje é bom. Digamos que estou 70% do que eu era. Ainda sinto dores nas pernas, tem dias que sinto fraqueza nas pernas e dores nos braços, tenho muitas dores no estômago e náuseas muito fortes que por muitas vezes me impossibilitam de me alimentar; no hospital perdi mais de 25 kg e nas últimas semanas, por causa do meu estômago, perdi mais quatro quilos. Foi solicitada uma endoscopia, mas não consegui fazer ainda. Depois da alta, fiz um exame de sangue que mostrou uma pequena alteração no meu rim”, descreve.
Há pacientes que mesmo após a alta relatam a persistência da falta de apetite e ainda a perda do olfato e do paladar.
OUTROS CASOS
Enquanto isso, o casal Francisco Gonçalves – mais conhecido como pastor Jari – e Marinalda também vive os dias da pós-Covid-19. Com 68 anos e sem ter nenhuma das principais doenças que agravam os sintomas, como diabetes ou hipertensão, ele ficou 28 dias internado, dos quais 13 passou no CTI, entubado.
Em casa há nove dias, ele conta que após a alta já retornou três vezes ao hospital porque não estava conseguindo fazer as necessidades fisiológicas – agora está com sonda.
“Aos poucos estou me recuperando. Mas tá muito difícil”.
Francisco trabalha pela recuperação completa ao lado da esposa, Marinalda. Com 63 anos e após seis dias internada, ela realizou alguns exames de sangue que lhe foram pedidos, mas os resultados ainda não saíram. Ela reclama que, passados alguns dias da alta hospitalar, “ainda hoje sinto pouca energia. Não sou mais a mesma pessoa”.
Fonte: Correio do Estado