Temperaturas altas do verão representam risco para a pele
Verão é tempo de férias, lazer, viagens e passeios pelos mais diferentes lugares – praia, parques, clubes ou mesmo no campo. Porém, as altas temperaturas nesta estação – que em 2019 estão altas, mesmo! – exigem atenção redobrada com a saúde, não somente com as crianças, mas também com os adultos e idosos. A exposição ao sol forte, muito comum nesse período, tem de ser cautelosa, até porque, de todos os tumores malignos registrados no Brasil, 30% são de pele, o que torna a doença comum no País.
Mas, além de a pele sofrer com o desenvolvimento de tumores malignos por excesso de exposição sem proteção, há também o envelhecimento precoce, as queimaduras, as micoses e o bicho geográfico. O restante do corpo também responde à falta de cuidados nesta estação: danos à retina e ao cristalino – pela falta de óculos escuros, o que facilita o aparecimento de catarata –, otite, desidratação, intoxicação alimentar, dengue, zika, entre outras.
A dermatologista Mariliza Nomura explica que, nesta época, é preciso redobrar o cuidado com a pele e ficar atento a dicas que podem colaborar na prevenção de doenças futuras. A médica salienta que, além de evitar exposição direta ao sol, é preciso ter alimentação leve e “tomar muita água”.
“Se a pessoa for ficar ao sol, que seja antes das 10h e depois das 16h. Isso serve tanto para crianças e idosos, como para todas as pessoas. É preciso beber bastante água e aplicar o filtro solar a cada duas horas. Lembrando que tempos nublados também têm radiação, portanto, é importante o uso do produto diariamente”, alerta.
A especialista ressalta que é mito as pessoas acharem que ficar direto em baixo de guarda-sol ou na sombra não as expõe aos raios solares. “A areia reflete a radiação, portanto, quem está na praia tem de redobrar a atenção. Usar chapéu, bonés e óculos de sol, além de tudo que puder para se cuidar. Hoje, existem até roupas com tecnologia que têm fibras para evitar que a radiação passe para a pele, muito interessante para crianças e idosos”.
Além disso, protetor solar sai com água e suor. Por isso, utilizar produtos com mais filtro físico é outra dica importante. “Recomendo sempre o uso de filtro solar infantil, que tem mais eficácia”.
A médica explica que, quando a pessoa está exposta ao sol, a imunidade cai e o tempo de cicatrização muda. Pessoas que sofrem com melasma – manchas escuras no rosto – tendem a piorar o quadro com a exposição solar. Para as mulheres, o ideal é usar filtro solar com base, que tem eficiência maior.
Crianças com tendência a dermatite atópica (inflamações na pele) têm de tomar mais cuidado, pois, com o sol, as áreas de ressecamento podem aumentar. Além disso, é importante ter atenção ao manusear o limão. “Manchas e queimaduras decorrentes do uso de limão e frutas cítricas são comuns nessa época. Às vezes, as marcas só aparecem na pele dois dias depois do contato”.
DESIDRATAÇÃO
Sintomas como dor de cabeça, sede intensa e boca seca podem servir de alerta. Esses são os primeiros sintomas que indicam que a quantidade de líquido no organismo está baixa. Além deles, outros sintomas podem aparecer, dependendo da intensidade do problema:
– Desidratação leve e moderada: pele seca, olhos fundos, diminuição da sudorese, cansaço, dor de cabeça, tontura e, em bebês, moleira afundada.
– Desidratação grave: queda de pressão arterial, perda de consciência, convulsão, coma, falência de órgãos e morte.
De acordo com a gastroenterologista Tábata Antoniaci, crianças e idosos são mais sensíveis ao problema. “As crianças desidratam mais facilmente em razão de suas características biológicas; os idosos, geralmente, sentem menos sede e costumam fazer uso de medicamentos diuréticos”, destaca.
Ainda conforme a gastroenterologista, a desidratação, em longo prazo, acaba prejudicando a função do intestino de retirar água do que comemos e bebemos para usar nas funções vitais do corpo. O ideal, para evitar essa situação, é aumentar a ingestão de água.
A médica conta que alguns alimentos podem ser bons aliados nessa hora. “Alface, beterraba, couve, tomate, aipo, rabanete, carambola, pepino, morango, melancia e melão possuem alta concentração de água em sua composição, o que ajuda a manter o organismo bem hidratado e funcionando corretamente”, diz a médica.
OTITE
No verão, os casos de otite aumentam até 70%, segundo os médicos. Por isso, a prevenção é importante. É todo tipo de inflamação ou infecção no canal do ouvido. Ocorre com maior frequência no verão, pois o acúmulo de água do mar ou da piscina no canal auditivo é um prato cheio para seu desenvolvimento. Não se deve esquecer de proteger os ouvidos na hora do mergulho. E para isso, nada melhor do que usar protetores auriculares, que promovem a vedação completa do conduto auditivo.
As otites têm várias causas. Podem surgir por meio de vírus e bactérias após gripes e resfriados; podem ser causadas por germes e fungos presentes na água do mar e piscinas, que provocam inflamação e obstrução do canal auditivo; e até mesmo ser consequência de trauma local causado por algo inserido no ouvido para coçar ou “limpar”, como hastes flexíveis, grampo e até tampa de caneta. E o que é pior. Se não tratada corretamente, a otite pode causar danos à audição.
Se houver sintomas que podem estar relacionados à otite – coceira, vermelhidão, inchaço, secreção, dores, sensação de abafamento ou diminuição da audição –, é necessário procurar um médico otorrinolaringologista, que vai prescrever o tratamento mais adequado. E se depois de um tempo ainda houver dificuldades de audição, é preciso investigar com o médico se há outras doenças associadas.
BICHO GEOGRÁFICO
É a doença cutânea causada pela entrada da Larva migrans na pele, por meio de cortes ou feridas. Após alcançar o interior da pele, a larva caminha pelo local traçando contornos perceptíveis do lado exterior, o que gera sensações de coceira, vermelhidão e inchaço. Normalmente, o bicho geográfico instala-se na região do pé, por conta do contato direto com gramados ou areia, ambientes que retêm umidade e protegem as larvas do calor, conservando-as vivas. Como essas larvas chegam a esses ambientes por meio das fezes de cachorros e gatos, a maneira mais eficaz de evitar o bicho geográfico é recolhendo as fezes desses animais domésticos depositadas em locais público. Outra medida importante é não andar com os pés descalços em ambientes de risco.
INTOXICAÇÃO ALIMENTAR
É a reação do organismo após a ingestão de alimentos contaminados por micro-organismos nocivos. As altas temperaturas do verão dificultam a conservação adequada de alguns alimentos e contribuem para a proliferação desses micro-organismos. Após o consumo, as reações são náusea, febre, vômitos, diarreia e desidratação, causando um mal-estar generalizado. Verificar quesitos como consistência/aroma/odor dos alimentos e utilização de luvas/toucas nos estabelecimentos gastronômicos ajudam na prevenção da intoxicação.
BENEFÍCIOS
Se há efeitos colaterais com as altas temperaturas e o excesso de exposição ao sol, também é preciso dizer que ele é responsável por cerca de 90% da aquisição de vitamina D pelo homem e os alimentos (como leite, gema de ovo, manteiga, peixes de água fria, shitake seco e óleo de fígado de bacalhau) respondem pelos outros 10%. Idosos e pessoas que não podem tomar sol com frequência são indicados a usar suplementos de vitamina D. Para os portadores de psoríase, por exemplo, o sol pode ser um alívio, já que é um aliado no tratamento da doença, atuando como um anti-inflamatório. A psoríase é uma doença crônica, sistêmica, que se manifesta na pele e que leva a maioria dos seus portadores a se “esconder” pela aparência que causa nela; nos estágios avançados da doença, pode haver escamação excessiva da pele. Recentemente, a Comissão Nacional de Incorporação de Novas Tecnologias aprovou a incorporação, pelo SUS, de tratamento com medicamento biológico, o Adalimumabe, um anticorpo monoclonal totalmente humano, para o tratamento de pacientes com psoríase moderada a grave.
Correio do Estado