Sem abrir mão do ritual, Aparecida casou aos 75 usando véu e grinalda e fez noivo ter ‘chororô’
O que pensa em fazer após os 75? E aos 78? O que a terceira idade significa para você? Sem enrolação, a resposta de muita gente é que não sabe nem se vai estar vivo, que já acha que é o fim da vida e por aí vai. Na contramão de muitas suposições, Aparecida Dias Basílio jamais deixou de acreditar no amor e casou, novamente, aos 75 anos. Ao entrar na igreja, de véu e grinalda, deixou o noivo emocionado e o chororô, em alguns momentos, tomou conta da cerimônia.
Em uma conversa sábia e ainda em clima de “eterna lua de mel”, Aparecida deu entrevista exclusiva ao MidiaMAIS. A aposentada conheceu Heitor David de Souza, de 77 anos, nos bailes e também na igreja, já que ambos são católicos. Em pouco menos no dois anos, já estavam morando juntos e com a certeza de ainda colecionarem momentos maravilhosos.
Ao falar da cerimônia, no entanto, Cida, como é conhecida, demonstra alegria imediata. “Foi maravilhoso, divertido, eu amei. Eu estava de véu, grinalda e florezinhas no cabelo. Ele [Heitor] é uma pessoa muito boa, maravilhosa, não tenho o que falar dele. Todos da família dele são pessoas boas também, conheci todos e também me querem bem. Meus filhos também gostaram dele, adoraram, não tem o que falar”, disse.
‘Somos companheiros um do outro’, diz aposentada
Mesmo viúva há 20 anos e com nove filhos, Aparecida conta que sempre fez questão de morar sozinha. “Eu nunca quis dar trabalho e isso me fez ser bem ativa. Faço tudo em casa. O Heitor também. Ele é aposentado também, morava sozinho, mas, sempre se deu muito bem com os sete filhos dele. Agora nós somos companheiros um do outro”, argumentou.
Antes do casamento, a aposentada comenta que o período sozinha não foi sempre fácil, porém, ela jamais deixou de ter paciência. “A mulher não pode andar jogada, sempre tem que se cuidar. Eu também nunca fui de bagunça, sei o meu lugar o meu valor. E aí a gente vai vivendo, não deve ficar desesperado. Falo isso sempre para quem está buscando alguém. Tem que pensar positivo. O nosso pai é justo e sempre tem a hora de todo mundo”, comentou.
‘Sou chorão e não me aguentei’, conta marido
Pois bem, na “sua hora”, Aparecida não fez feio. Toda de branco, no último fim de semana, ela chegou radiante na Comunidade Nossa Senhora das Graças, no bairro São Jorge da Lagoa, em Campo Grande. O marido, da mesma forma, falou com muita alegria sobre o tão aguardado casamento. “Ah, foi bom demais, todo mundo gostou. Eu sou meio chorão, daí não me aguentei”, contou ao MidiaMAIS.
Empenhados no melhor para os noivos, os filhos decoraram a igreja, providenciaram o bolo e os doces e ainda ofereceram um hotel para eles passarem a noite juntos, o que foi negado.
“Não aceitamos porque já moramos juntos. E aí toda hora tem filho por aqui, ficamos meio sem graça com esse negócio de ir lá, brindar, comer e beber. Somos maduros, nosso negócio é outro. Vamos para a praia em fevereiro, está ótimo já”, opinou Aparecida.
Uma das filhas de D. Aparecida, a professora Cilene Dias Basílio, de 39 anos, argumenta que a mãe e o padrasto se conheceram logo após “dois anos tensos de pandemia”.
“Eles conversaram bastante antes de decidir pela união e ambos tinham essa vontade de comungar e oficializar o casamento, principalmente, por serem frequentadores da igreja católica. Foi aí que souberam de um casamento coletivo lá e se inscreveram, porém, não houve procura”, explicou.
Em um mês, quando souberam da notícia, mantiveram o compromisso e este foi o único casal da noite. “Para falar a verdade, eu não imaginava e até desconhecia este sonho dela, de casar na igreja. Nós nos reunimos para decorar tudo, fazer a festa mesma. E como eles não perdem tempo, decidiram tudo muito rápido. Fico feliz por ela recomeçar com uma pessoa boa. Agora são eles, um gato e um cachorro”, brincou Cilene.
Fotógrafa diz que recebeu conselhos da aposentada: ‘Chorei’
A fotógrafa Thays Rodrigues, que atua no ramo há uma década, diz que é sempre muito discreta no trabalho. “Faço aniversários, casamentos, mas, este me marcou bastante. Eu lembrei demais dos meus avós. O meu avô não tenho mais, somente minha avó. Logo que cheguei, fui muito bem recepcionada pela família e, de cara, já vi o noivo muito emocionado”, relembrou.
Da mesma forma, a noiva também estava emotiva, porém, se demonstrando estar “mais forte”.
“Foi uma realização de sonhos. Eu comentei: ‘Parabéns. Eu tô aqui pensando se não sei nem se chego na idade da senhora e nem sei se vou conseguir casar um dia’. Foi quando ela respondeu que nunca é tarde para se realizar sonhos e ali mesmo eu comecei a fotografar”, comentou.
Em certo momento, no entanto, o jogo inverteu e a fotógrafa ficou emocionada.
“Eu chorei ali mesmo, atrás das lentes. Eu chorei por eles, pela fé deles, por ela estar realizando um sonho. Eu não aguentei e chorei. Sou uma pessoa apaixonada pelas minhas imagens e a simplicidade deles, a humildade, a realização de um sonho foi demais. Quantas vezes a gente não se sente incapaz e eles ali mostrando a diferença”, finalizou.