Aproximadamente 1.500 bolsonaristas são retirados de acampamento em frente ao quartel de Brasília e conduzidos a PF
O Exército e a Polícia Militar realizaram na manhã de hoje um cerco ao acampamento golpista em Brasília. Mais de 40 ônibus removeram ao menos 1.500 radicais bolsonaristas para a superintendência da Polícia Federal —o número exato de pessoas será divulgado após triagem. As informações são da Comunicação Social do Exército.
Ainda não há definição do que vai acontecer. Segundo fontes da Polícia Federal, a situação depende de quais crimes serão imputados a cada um dos detidos. A reportagem apurou que os bolsonaristas serão fichados e alguns podem responder por tentativa de golpe de Estado. A estimativa da PF é que foram enviados 1.200 golpistas em 50 ônibus (mas esse não é um número oficial).
Os golpistas não ofereceram resistência e aceitaram entrar nos ônibus, segundo um oficial militar. Ainda há algumas pessoas no acampamento —foi permitido a elas recolher seus pertences.
Eles chegaram cantando o hino nacional à PF, onde serão identificados. Haverá uma separação entre os que foram ao ato terrorista ontem e os que estavam apenas acampados. Os agentes não sabem exatamente o que vai acontecer, estão esperando ordens superiores.
1.500 golpistas podem ter escapado. Estima-se que 200 acampados ocupavam o local até a última sexta-feira (6). No final de semana, depois da convocação nas redes bolsonaristas, acredita-se que esse número subiu para 3 mil pessoas.
Pena
Os bolsonaristas que invadiram e depredaram Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal e Palácio do Planalto cometeram diversos crimes e podem pegar, se somadas as penas, mais de 15 anos de prisão em regime fechado, disseram à BBC News Brasil professores de Direito Penal.
Essa pena pode subir para até 30 anos caso as acusações incluam também crime de terrorismo, como sinalizou o ministro do STF Alexandre de Moraes.
Segundo os criminalistas, os invasores podem ser enquadrados em crimes contra as instituições democráticas, de associação criminosa e danos ao patrimônio público. Já há imagens mostrando obras de arte de valor inestimável, como um quadro que seria de Di Cavalcanti, destruídas ou danificadas.
“Eu não sou uma pessoa punitivista de modo geral. Mas esse é um crime contra o Estado Democrático de Direito. Devem ser punidas todas as pessoas que estão nesse ato e os organizadores. É claramente um ataque à própria democracia”, avalia a advogada Maíra Fernandes, vice-presidente da Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas.
O professor de Direito Penal da Universidade de São Paulo, Allamiro Velludo Salvador Netto, destaca que os financiadores das invasões também devem ser enquadrados nesses tipos penais, ainda que não tenham estado pessoalmente nos atos.
“O direito penal brasileiro não pune exclusivamente aquele que pratica o verbo do delito. Usando uma analogia com o homicídio, não é só aquele que aperta o gatilho, mas aquele que fornece a arma, indica onde a vítima está”, explica.
“Aquelas que forneceram meios materiais, dinheiro, logística, os ônibus, se for identificado que houve contribuição causal, serão responsabilizadas pelos mesmos delitos.”.
Fonte: UOL