Após protestos no Corinthians, Cuca se defende sobre condenação por estupro: ‘Sou inocente’
Cuca falou suas primeiras palavras como técnico do Corinthians nesta sexta-feira. Em 40 minutos de entrevista, o treinador respondeu, principalmente, a perguntas a respeito da condenação que sofreu em Berna, na Suíça, por estupro a uma menina de 13 anos, quando ainda era jogador do Grêmio, e que provocou uma série de protestos de torcedores contra a sua chegada.
Ele afirmou ser “totalmente inocente”, disse ter “vaga lembrança” do episódio ocorrido em 1987 – a condenação se deu em 1989 – revelou arrependimento por ter falado pouco sobre o assunto, prometeu “passar por cima” dos protestos contra a sua contratação e manifestou o desejo de abraçar causas sociais em benefício das mulheres e que combatem casos de violência e abuso sexual.
“É um tema delicado, pessoal, mas faço questão de falar e ser aberto. Eu estava no Grêmio há uns 20 dias. Tenho vaga lembrança de tudo que aconteceu. Na lembrança que tenho, tinha 23 anos, íamos jogar uma partida e pouco antes subiu uma menina para o quarto. O quarto em que eu estava com mais três jogadores era duplo, tinha duas camas. Essa foi minha participação nesse caso”, começou por dizer o treinador.
“Sou totalmente inocente, não fiz nada. As pessoas falam que houve um estupro. Eu não fiz nada”, enfatizou Cuca. “A gente vê e ouve um monte de coisas falando inverdades, chegando a me ofender. Vou fazer 60 anos, tenho duas filhas, de 32 e 34 anos. Venho de uma casa em que sou o único homem”, defendeu-se.
ARREPENDIMENTO
Cuca avaliou que um de seus erros foi ter falado pouco a respeito do caso que o levou à condenação pela Justiça suíça e alegou não ter podido se defender à época. Segundo ele, a vítima declarou que o treinador, então jogador à época, não participou do ato.
“O meu erro foi não ter me defendido. Primeiro, não tinha dinheiro para me defender. Segundo, nem soube que eu tinha sido julgado. Por três vezes, a moça esteve lá na frente. Ficamos para averiguação. Eu juro por Nossa Senhora que eu não estava. Como posso ser condenado pela internet? A internet te julga e te pune”, declarou.
PROTESTOS
Ele revelou o desejo de participar de movimentos contra abusos e que defendem as mulheres. “Sou pai, sou avô. Quero que as mulheres estejam cada vez mais protegidas. Por isso estou aqui. Mais da metade da torcida do Corinthians é feminina. Um time que tem a causa ‘respeita às minas’. Essa causa que está existindo eu quero abraçar também até por proteção às minhas filhas, minha mulher, minha irmã”, comentou. “Por que eu devo uma desculpa pra sociedade se eu não fiz nada?”, voltou a repetir.
Fora do CT, um coletivo de torcedoras protestou contra a contratação do treinador. Uma delas, Luciana, contou que uma amiga, vítima de abuso infantil, não teve forças para se manifestar porque o caso de Cuca gerou gatilhos nela. O técnico disse que “não é bandido” e avaliou não se importar com as manifestações pedindo a sua saída.
“Do fundo do coração, pode haver protesto, mas ele não é maior que minha vontade de estar aqui”, salientou o técnico. “Eu vou passar por cima de tudo, de protesto, do que tiver. E se não tiver, vou me fortalecer. Hoje eu sou Corinthians”. O comandante corintiano garantiu que dorme “tranquilo” porque tem saúde e paz
“Se eu pudesse não estar no quarto, eu não estaria. Mas eu não fiz nada, se é que aconteceu alguma coisa. Qual é a palavra da mulher? Que o Cuca não esteve lá. Como pode ser condenado?”, completou.
O OITAVO NOS QUATRO GRANDES
Cuca se tornará o oitavo técnico da história a treinar os quatro grandes de São Paulo. Vai se juntar a Aymoré Moreira, Carlos Alberto Silva, Émerson Leão, Nelsinho Baptista, Osvaldo Brandão, Oswaldo de Oliveira e Rubens Minelli. “Eu sinto que no Corinthians posso desenvolver meu trabalho. E era o único grande de São Paulo em que não havia trabalhado. Vou dar meu máximo para fazer o time jogar”, projetou.
ENTENDA O CASO QUE LEVOU À CONDENAÇÃO DE CUCA
Então meio-campista do Grêmio, ele foi detido com os também atletas Eduardo Hamester, Henrique Etges e Fernando Castoldi, sob a acusação de “manter atos sexuais” com uma menina de 13 anos.
Os jogadores permaneceram em cárcere por 30 dias. Fernando foi o primeiro a ser liberado, já que a sua participação no ato não foi comprovada. Dois anos mais tarde, Cuca acabou condenado a 15 meses de prisão e ao pagamento de US$ 8 mil. Em matéria publicada à época pelo Estadão, o treinador disse que o episódio o fez adquirir “experiência e maturidade”.
Em depoimentos à época, a vítima narrou ter sido segurada à força pelos quatro jogadores do Grêmio. O processo permanece sob sigilo protegido pela lei de proteção de dados da Suíça. Cuca nega ter cometido abuso ou violência sexual contra a mulher e alega que não teve a oportunidade de se defender. O julgamento foi feito à revelia, já que ele e os outros gremistas envolvidos no caso já haviam voltado ao Brasil.