Médicos são presos por cobrança ilegal de partos no SUS
Dois médicos foram presos preventivamente na Fronteira Oeste do RS. Relatos apontam sequelas e uma morte pela não realização de cesáreas.
A Polícia Federal deflagrou na manhã desta segunda-feira (6) uma operação contra a cobrança indevida de partos que deveriam ser cobertos de forma integral pelo Sistema Único de Saúde (SUS), em um esquema que durava 13 anos e que teria movimentado R$ 1,6 milhão. Dois médicos foram presos preventivamente na cidade Itaqui, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul.
Conforme a PF, durante as investigações, dezenas de mulheres relataram que tiveram de pagar dois médicos obstetras e um anestesista pelo parto de cesárea no Hospital São Patrício. O caso foi descoberto em 2014 a partir de uma denúncia feita por um médico que fazia residência no local.
Uma das pacientes gravou, com ajuda da Polícia Federal, o momento em que um médico cobrava pela cirurgia: “se vai querer fazer cesárea com ligamento, aí eu vou te cobrar R$ 1,8 mil”, afirma na gravação um dos dois médicos presos na operação deflagrada nesta segunda.
Conforme a PF, os valores de R$ 400 a R$ 1,8 mil eram embolsados pelos médicos, apesar da internação ser feita por meio do SUS, conforme comprova documentação apresentada pelo hospital.
“Aquelas pacientes que não tinham como pagar pelo procedimento, era aguardado entrar em trabalho de parto, e mesmo em sofrimento, mesmo muitos dias de trabalho de parto, se elas não tinham condições e dinheiro para pagar o médico, não era realizada a cesárea. Os médicos se negavam a realizar. Mulheres sofreram muitos dias e teve caso identificados de recém-nascidos que faleceram, ou que tiveram sequelas graves por terem permanecido muito tempo dentro do útero”, afirma a delegada responsável pela investigação, Ana Gabriela Becker Gomes.
Ainda conforme a investigação, os pacientes tinham que pagar por outros procedimentos realizados pelo SUS, como cauterizações, aplicação de injeções e outras cirurgias.
Os dois médicos foram presos na madrugada desta segunda-feira e encaminhados à Penitenciária Modulada de Uruguaiana, e devem responder pelos crimes de corrupção, estelionato e realização de esterilização cirúrgica ilegal. A funcionária de um dos médicos e um anestesista foram indiciados.
Conforme a delegada responsável pelas investigações, os trabalhos de averiguação vão continuar, e a polícia pede que as vítimas procurem as autoridades para levar mais denúncias.
“A gente espera que essas prisões tragam mais pessoas para fazerem a denúncia. Porque esses casos não aconteceram só aqui em Itaqui, não aconteceram só no Rio Grande do Sul. Essas cobranças indevidas acontecem no Brasil inteiro, então a gente espera que, a partir dessas prisões, mais pessoas venham a denunciar”, diz a delegada, completando que as investigações continuarão.
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), Fernando Weber Matos disse que vai aguardar que seja feita a denúncia com provas para que seja aberta uma investigação sobre os médicos denunciados.
“Acredito que é uma prática não devida, não correta. Se o médico tem um contrato com o SUS, com o IPERGS (Instituto de Previdência do Estado do Rio Grande do Sul) para fazer partos, tem que receber pelo SUS e pelo IPERGS”, afirmou em entrevista à rádio Gaúcha.
Fonte: G 1